segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011


Uso excessivo de jogos eletrônicos pela geração digital preocupa pais



Jogos eletrônicos já foram acusados de causar problemas como obesidade, déficit de atenção, timidez e agressividade excessivas. Outros estudos, porém, alardearam seus benefícios no desenvolvimento de noção espacial, habilidades visuais e motoras e no combate ao declínio mental que surge com a idade. A tecnologia, dizem especialistas, não é vilã nem mocinha. O segredo é o uso adequado. Mas, para pais de crianças e adolescentes da geração digital, isso nem sempre é algo fácil de definir.

Alex de Oliveira, de 13 anos, já se recusou a visitar o pai, em outra cidade, para não ficar longe do videogame. 'O pai não deixa ele levar, pois acha que Alex já joga demais durante a semana', conta a mãe, Andréa de Oliveira, de 44 anos. Ela diz que tenta impor limites, mas tem dificuldade. 'Nunca foi mau aluno. Então, fico sem argumento.'
As angústias da administradora Angélica Bastos, de 33 anos, são parecidas. Ela reclama que a filha Gabriela, de 11 anos, deixa de brincar de patins e nadar com as crianças do prédio para jogar. No fim de semana, não quer passear com a família e, para onde vai, leva um videogame portátil a tiracolo. 'Acho um exagero, mas não sei medir se isso a prejudica', diz.

A diferença entre o uso abusivo e o recreacional da internet e dos jogos eletrônicos ainda é um pântano mesmo para especialistas, diz o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Ambulatório dos Transtornos do Impulso do Hospital de Clínicas de São Paulo. Essa geração digital, diz ele, foi educada sob a perspectiva de estar conectada e tem características muito diferentes das anteriores. 'Possuem mais amigos virtuais que reais. Preferem conversas online. Até seus bichos de estimação são virtuais', afirma.
Até aí, tudo bem. O problema surge quando o jovem começa a migrar da vida real para a virtual e passa a negligenciar atividades comuns. Como esse uso excessivo não deixa sinais físicos, a diferenciação acaba sendo feita pelo prejuízo causado nas diversas áreas da vida, explica o psiquiatra Daniel Spritzer, coordenador do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas (Geat), do Rio Grande do Sul. 'A esfera escolar é geralmente a mais afetada, com uma marcada queda no rendimento.'

Foi o caso do estudante André Muniz, de 17 anos. 'Tinha dificuldade de me concentrar durante as aulas, pois ficava pensando no jogo', conta. Embora seu desempenho nas provas não fosse ruim, tinha a nota prejudicada por não entregar os trabalhos de casa. 'Ele tem facilidade e foi bem no vestibular, mas poderia ter uma performance muito melhor no colégio se não fossem os games', lamenta o pai, Onofre Muniz, de 69 anos.

Número mágico. Segundo o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, do Ambulatório de Tratamento de Dependências Não Químicas da Unifesp, não existe um 'número mágico' que caracterize a dependência. 'Há pessoas que vão sofrer prejuízos com duas horas diárias de uso e outras que podem jogar oito horas e continuar bem. É preciso olhar o contexto', diz. A relação disfuncional com o jogo, continua, é sintoma de um problema anterior.

Rosa Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, concorda. Ela realiza um trabalho de orientação por e-mail a dependentes de internet e jogos eletrônicos e conta que o primeiro passo para a recuperação é identificar a dificuldade que levou ao uso abusivo.

'Geralmente são jovens introvertidos que não se sentem muito prestigiados na vida real, mas nos jogos conseguem ser os melhores', conta. Também costumam estar subjacentes problemas de autoimagem e de comunicação com a família.
Proibir o uso do computador ou do videogame, diz Rosa, não é a solução. 'O melhor que os pais podem fazer é ter uma atitude preventiva. Para isso é preciso conhecer as possibilidades do mundo virtual, aproximar-se do jovem, acompanhar o uso das tecnologias e ajudá-lo a discriminar o bom e o ruim.'

A administradora Angélica tem procurado colocar essa ideia em prática com a filha Gabriela. 'Para entrar em um site novo de jogo, ela precisa me avisar antes para eu avaliar o conteúdo. As conversas no MSN também devem ser gravadas e, de vez em quando, dou uma olhada.' Angélica conta que a interação com pessoas desconhecidas por meio dos jogos é o que mais a preocupa.

Sem temor. Para Quézia Bombonatto, da Associação Brasileira de Psicopedagogia, os pais não podem ter medo de colocar limites. O ponto de equilíbrio, diz, vai depender dos valores de cada família.

Como o cérebro de crianças e adolescentes ainda não está totalmente formado, eles têm mais dificuldade para controlar seus impulsos, explica a neuropsicóloga Adriana Foz. 'Os pais precisam estar próximos para ampará-los, assim como cuidam de um bebê que está aprendendo a andar.' No caso de crianças menores, continua, cabe aos pais determinar quando, como e para que usar o computador. Com os adolescentes é preciso manter o diálogo. 'O mundo digital oferece inúmeras oportunidades de desenvolvimento cognitivo, aprendizagem e diversão. Não temos como negar nem omitir, mas aprender a fazer um uso saudável e agregador.'

PRESTE ATENÇÃO...

1. Horário fixo.
Assim como outras atividades do cotidiano, o uso do computador e do videogame deve ter um horário definido na agenda. Esse tempo pode ser um pouco maior nos fins de semana, mas nos dias úteis não pode comprometer o estudo.

2. Área comum.
O computador deve ficar em uma área comum da casa, nunca no quarto da criança ou do adolescente. Assim a família pode acompanhar o tempo de jogo, a interação online com outros jogadores e o conteúdo dos games.

3. Idade adequada.
O tema e o conteúdo dos jogos devem ser adequados à idade da criança. A recomendação na embalagem é um indício, mas os pais precisam conhecer o jogo para saber se de fato é apropriado. Na dúvida, converse com outros pais, a direção da escola ou procure um
Especialista.

4. Acompanhamento.
Principalmente no caso de crianças menores, é recomendado acompanhar de perto os sites visitados e as conversas online. Você pode avisar antes que fará a verificação.


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