domingo, 13 de fevereiro de 2011

Secretaria confirma risco de epidemia de dengue no Ceará

Pais deverão ficar atentos, pois a doença está se manifestando de forma diferente em crianças

Crianças estão mais vulneráveis a casos potencialmente graves de dengue. É o que alertam especialistas da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). O retorno do tipo 1 da doença, que desde a epidemia de 1994, não circulava no Ceará, foi o que levou a esta realidade.

Manoel Fonsêca, coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria, não descarta que o Ceará venha a sofrer uma epidemia da doença. "Pode ser que tenhamos surtos epidêmicos não só em Fortaleza, mas em vários municípios do Estado", revela.

Em janeiro de 2011, foram 157 notificações, número quase cinco vezes maior que no mesmo período do ano passado, quando 34 quadros clínicos suspeitos de dengue foram registrados. Este ano, pais e mães deverão estar atentos, pois em crianças o vírus está se manifestando de maneira diferente quando acomete os adultos.

Crianças

Com isso, aumenta, quantitativamente, a incidência do problema, como já acontece no Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Patrícia Sampaio, chefe do setor de pediatria da unidade, declara que o hospital já apresenta um crescimento significativo de casos relacionados à doença. "Começa com moleza no corpo, diarreia e comprometimento hepático, coisas que a gente não via na epidemia de 2008".

Para agravar a situação, explica Patrícia Sampaio, na maioria das vezes, os pequeninos não verbalizam que estão sentindo dor, só choram. Segundo a Sesa, a situação é preocupante, tanto que no ano passado todos os treinamentos foram direcionados a pediatras.

No Hospital São José, referência em patologias infecto-contagiosas, oito pessoas estavam, até quinta-feira passada, internadas com dengue. Conforme o diretor da unidade, Anastácio Queiroz, o número é considerado alto, visto que são pacientes que, normalmente, não precisam de internação. Contudo, o especialista diz que estes casos serão vistos com bastante atenção, para que não haja óbitos.

O agente sanitarista José Arildo Cardoso, 33, faz parte das estatísticas envolvendo dengue no Ceará. Apesar de sentir todos os sintomas da doença, inicialmente, ele achava que estava apenas com uma virose. Somente após quatro dias, descobriu a verdade. "O mais irônico é que eu todos os dias passo de casa em casa alertando sobre os cuidados para eliminar o mosquito", relata, saindo da emergência do Hospital São José. Por estar com as plaquetas baixas, acha que terá que ser internado.

Resistência

O mosquito transmissor da dengue está mais resistente. É o que aponta a pesquisa realizada pela pesquisadora Marylene de Brito Arduíno, da Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo (Sucen-SP), que encontrou larvas do Aedes aegypti em água suja e salgada.

De acordo com o coordenador da Sesa, Manoel Fonsêca, está havendo maior resistência do mosquito aos inseticidas. Desde 1986, quando foram notificados os primeiros casos de dengue no Ceará, eles começaram a ser utilizados no combate ao inseto. A partir desse momento, começou a acontecer modificação genética tanto no vírus, como no próprio mosquito, tornando-se mais resistente.

Para Fonsêca, o fato de ser encontrada larva do Aedes aegypti em água suja e salobra é justamente uma adaptação do mosquito à vida. O fato, no entanto, diz o especialista da Sesa, não é motivo para alarde, já que, no Ceará, não há muitas casas na beira do mar, nem em área de manguezais. "A descoberta não altera significativamente o controle, mas faz com que tenhamos mais cuidado com entulhos, sucatas e terrenos baldios", enfatiza Fonsêca. O coordenador declara que o trabalho da Sesa deverá continuar o mesmo, tendo como foco as residências, locais onde se concentra maior parte dos criadouros.

Incidência

Somente este ano, foram notificados, em Fortaleza, 449 casos. Número três vezes maior que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 132 pessoas apresentaram a doença. Na epidemia de 2008, no mês de janeiro, 800 ocorrências haviam sido notificados, o que significa dizer que falta pouco mais da metade de casos para chegar a uma epidemia.

Em todo o Estado, foram 1.352 casos somente este ano, em 78 municípios. Com destaque para Itapipoca, com 256 notificações. Chama atenção também o aumento do número de notificações, nos últimos meses de 2010, nos municípios de Pacatuba, Guaiuba, Massapê, Santa Quitéria e Icó. Os dados são do boletim semanal da dengue, divulgado pela Sesa.

A Secretaria Executiva Regional (SER) com maior incidência da doença é a V, com 124 casos. Os bairros Canindezinho e Bom Jardim apresentaram os maiores índices com 19 e 16 ocorrências, respectivamente. No entanto, o bairro com maior número de pessoas infectadas com dengue é o da Parangaba, na Regional IV, com 28 casos confirmados. Em seguida vem as Regionais VI com 75; III com 68; II com 44; e I com 23.

O coordenador do Distrito de Endemias da SER IV, Francisco Deusimar Girão, diz que a área apresenta três tipos de depósito preferencial do mosquito: tanques, tambores e caixas d´água. Esta última, por ser de difícil acesso, não costuma ser verificada com frequência pelos moradores. "Como eles não sobem na caixa d´água, o Aedes aegypti facilmente evolui", conta.

Saiba mais
Conheça os sintomas

Dengue é uma doença viral, febril, transmitida ao seres humanos pela picada de mosquito. Seus sintomas são: febre, dor de cabeça, nas juntas, no corpo, nos olhos, e manchas vermelhas no corpo. O tratamento é feito com líquidos, água, soro, sucos, por via oral ou soro injetado na veia. Em alguns casos, é necessário utilizar medicação para febre e dor. Quando se tem dengue, a maioria das pessoas tem o tipo mais leve da doença. Porém, algumas apresentam a forma mais grave da patologia, que pode levar ao óbito. Um indivíduo pode ter dengue por até quatro vezes. Não se pega dengue de outra pessoa.
DESCUIDO
80% dos focos estão dentro das casas

Os criadouros de mosquito no Ceará estão, em mais de 80% dos casos, dentro das casas - especialmente na caixa d´água, que acumula mais de 76% dos focos. É o que afirma o coordenador da Sesa, Manoel Fonsêca.

O especialista destaca que o trabalho de combate ao Aedes aegypti é de responsabilidade de três setores: público, que tem que preparar o ambiente para tratar as pessoas e evitar mortes; população, que tem que fazer a sua parte, limpando o seu quintal e a sua casa; e empresários, que se comprometeram em iniciar campanhas nos canteiros de obras, fábricas e lojas, fazendo um trabalho de conscientização dos funcionários até às as suas residências.

Responsabilidade

O secretário municipal de saúde, Alex Mont´Alverne, declarou, durante reunião com empresários da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), que existem aproximadamente 200 mil caixas d´água descobertas em Fortaleza. O número equivale a cerca de 25% dos imóveis da Capital.

"Se transformarmos essas caixas d´água em uma superfície única, supondo que cada uma tem um metro cúbico de água, mais ou menos, daria para formar um grande açude. Temos grandes criadouros em potencial dentro das residências das pessoas", diz Manoel Fonsêca.

Segundo o coordenador, o Ceará só conseguirá eliminar as epidemias de dengue, quando for descoberta a vacina. No Ceará, um destes projetos será testado contra os quatro sorotipos. Mas, mesmo que se comprove que o método é eficaz, a sua comercialização deverá levar, pelo menos, de quatro a cinco anos. "Portanto, ainda vamos conviver com epidemias de dengue nos próximos cinco anos", estima Manoel Fonsêca.

Segundo Francisco Deusimar Girão, coordenador do Distrito de Endemias da SER IV, apenas os agentes não são suficientes para combater a dengue, sendo essencial a ajuda da população como um todo.

A supervisora de frente dos agentes da SER IV, Raquel Horta Franco, conta que os fiscais não encontram dificuldade para entrar nas residências, o problema maior é a falta de colaboração da população. "A gente passa todas as recomendações, mas quando damos as costas, o morador não faz", lamenta.

LUANA LIMAREPÓRTER

Fonte: Diario do Nordeste

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