sexta-feira, 20 de maio de 2011

VIOLÊNCIA SEXUAL

Ceará é terceiro Estado do NE em denúncias


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Em oito anos, Disque 100 registrou 52 mil acusações de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil
Situação vulnerável: Jangurussu está entre os três bairros com maiores índices de violência sexual de Fortaleza. Ontem, ONG Com Vida denunciou a situação em manifestação
FOTO: NATINHO RODRIGUES
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Em oito anos, Disque 100 registrou 52 mil acusações 
                                                                                                                                                            
O serviço telefônico Disque 100, mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, registrou, entre maio de 2003 e março de 2011, 3.639 denúncias de violência sexual (abuso e exploração) contra crianças e adolescentes no Ceará.

A estatística deixa o estado em terceiro lugar na região Nordeste em número de denúncias, perdendo apenas para Pernambuco, que registrou no mesmo período 3.912, e Bahia com 7.868 denúncias.

Enfrentamento
Ontem, Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, na intenção de reverter a realidade atual e aumentar o número de denúncias, ocorreram mobilizações no Brasil inteiro.

Em Fortaleza, diversas entidades governamentais e não governamentais se reuniram e debateram o tema.

Um desses encontros aconteceu na Assembleia Legislativa do Ceará, onde foi lançada a campanha "Quem Cala, Consente - Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes é Crime". O objetivo é promover uma série de seminários de conscientização nas principais regiões do Estado.

As mobilizações acontecerão nos 20 municípios onde estão instaladas as Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (Crede).

Seminários
De acordo com a deputada estadual Bethrose Fontenele, presidente da Comissão da Infância e da Adolescência na Assembleia Legislativa, os seminários serão assistidos pelos conselheiros tutelares, professores e alunos entre dez e 16 anos que fazem parte do grêmio estudantil da escola.

"O objetivo da campanha é formar pessoas que serão multiplicadores das ações contra a violência sexual, tanto na escola como na comunidade", ressalta.

Para Leysa Barbosa, 16 anos, presidente do grêmio estudantil da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dr. César Cals, em Fortaleza, a iniciativa irá possibilitar com que mais pessoas, principalmente crianças e jovens, possam identificar os sinais da violência sexual e tenham coragem de denunciar.

"Com as orientações que vamos receber no seminário ficaremos mais atentos sobre o assunto e saberemos o que fazer e quem procurar quando um amigo, um irmão ou um vizinho estiverem sendo violentados ou explorados", ressalta.

Incentivo
Glauco Bastos, coordenador da Escola Dr César Cals, ressalta que a unidade escolar deve ser uma das principais incentivadoras de denúncias. Conforme ele, é na escola que as crianças e jovens passam a maior parte do dia e compartilham com colegas e professores suas angústias e medos.

"Tentamos fazer a nossa parte e implantamos, com apoio da Secretaria da Educação do Estado (Seduc), uma comissão de maus tratos na escola. Essa é mais uma tentativa de filtrar algumas informações e acompanhar esses estudantes. Contudo essa campanha será fundamental para orientá-los melhor", acrescenta o coordenador.

A chefe de gabinete da Seduc ressalta que ações e campanhas semelhantes a esta devem acontecer não só na rede pública de ensino, mas também na particular, pois a violência sexual atinge todas as classes sociais.

São Paulo
Pesquisa realizada no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) revela que o combate e a prevenção de abusos sexuais a crianças precisam ser feitos, principalmente, dentro de casa. Segundo o estudo, quatro de cada dez crianças vítimas de abuso sexual foram agredidas pelo próprio pai e três, pelo padrasto.

Os resultados foram obtidos após a análise de 205 casos de abusos a crianças ocorridos de 2005 a 2009. As vítimas dessas agressões receberam acompanhamento psicológico no HC e tiveram seu perfil analisado pelo Programa de Psiquiatria e Psicologia Forense (Nufor).

CONSCIENTIZAÇÃO´Meninas do Rap´ lutam por um Jangurussu sem exploração
"Se você foi abusada ou explorada, não fique calada. Se você calada ficar está ajudando a violência aumentar, sacou?" Com composições como essa e letras próprias, as ´Meninas do Rap´, ligadas a Organização Não Governamental (ONG) Conselho de Vida (Convida), tentam mudar a cena comum vivida na comunidade do Jangurussu, que está entre os três bairros com maiores índices de violência sexual contra a criança e adolescente da Capital.

Ontem, em pleno Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual, o grupo levou o som e a dança para o Parque da Liberdade, mais conhecido como Cidade da Criança, no Centro. Lá as ´Meninas do Rap´, mostraram para muitos que mesmo estando em uma situação vulnerável, é possível fazer diferente.

"Conheço muitas meninas da minha idade que já sofreram abuso e depois foram exploradas, onde moramos isso é comum, e o nosso trabalho é fazer com que as pessoas da comunidade vejam isso com revolta e lutem contra essa realidade", disse a estudante, Jaiany Juliana da Silva Santiago, 16 anos.

Outra integrante do grupo, a também estudante Ana Késsia Alves, 16 anos, falou da importância da ação da ONG em sua vida, no sentido de conscientiza-la e fazer dela uma multiplicadora dentro da comunidade. Porém reclamou da falta de fiscalização e ações imediatas para este tipo de crime.

"Lá no Jangurussu, como é perto da BR-116, é comum vermos os caminhoneiros abordando as meninas e tendo relações com elas a céu aberto. Todo mundo vê, mas são muito poucos os que denunciam, pois não acreditam que exista punição. Fora que, não tem ninguém fiscalizando, quando passa algum guarda nada é feito", desabafou a estudante.

O que a ´Meninas do Rap´ denunciaram ontem, em meio a caminhada de conscientização promovida pela Prefeitura De Fortaleza e Fórum Cearense de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, é o que muitas outras ONG´s presentes também reclama todos os dias.

O gestor de programas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Rui Aguiar, apontou a questão da fiscalização e a punição ao explorados como dois pontos principais para o enfrentamento. "Hoje em dia a probabilidade de o agressor ser punido é muito baixa, o que causa descrédito".

KARLA CAMILA E THAYS LAVOR
REPÓRTERES

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