Um tema que precisa ser discutido: Como pais e professores podem abordar a tragédia no Rio, respondendo às perguntas dos filhos e dos alunos sobre o assassinato das 12 jovens?
A questão é delicada - difícil até de ser imaginada - e as respostas não estão nos livros. Também pais e mães, experts nos porquês da infância e nos enigmas da adolescência terão dificuldades em afirmar a razão da tragédia que vitimou 12 jovens, ontem, na Escola Municipal Tasso da Silveira (Rio de Janeiro), quando o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, 23, atirou uma centena de vezes contra a rotina. A violência que espreita o cotidiano vem à tona novamente e “não se pode fazer de conta que não aconteceu nada”, atenta a socióloga Glória Diógenes.
Mas como contar a Pedro, 11 anos, sobre a morte - brutal e inexplicável - de um melhor amigo? Sobre o choro da mãe que ele viu correr desesperadamente em busca do filho morto? “Ele começou a ver (a notícia) e não aguentou. Ele é muito sensível e saiu”, diz a mãe de Pedro, professora Bernadete Porto, enquanto também tentava acompanhar, pelos flashes da televisão, o que aconteceu na escola carioca.
Juntando as partes da tragédia, especialistas montam um outro quebra-cabeça. “É preciso se trabalhar sentimentos, valores”, aponta Glória Diógenes. Abordando o assunto com equilíbrio, “nunca ignorar a ocorrência e nem supervalorizar”, a socióloga reforça que “essa experiência tem que ser discutida e tem que assumir outro lugar no imaginário do aluno”.
Bernadete Porto, doutora em Educação, dialoga: a conversa deve ser iniciada pelas crianças e pelos adolescentes. A abordagem não deve ser provocada, artificial. “Se elas querem conversar sobre isso, a escola precisa criar canais. O primeiro momento é de acolhida: algumas vão estar mais alienadas, outras, mais tristes”, indica. “Todos ficamos feridos com isso, e todas as crianças estão sofrendo”, completa.
“Se a criança for muito pequena, os pais não precisam entrar em detalhes”, orienta Luana Andrade, psicoterapeuta de adolescentes. “Com os maiores, a ênfase é maior”, contrapõe. “Cabe aos adultos - pais, professores e autoridades - buscarem formas de recobrar os sentidos mais rapidamente e oferecerem apoio aos sobreviventes e aos indiretamente envolvidos. Melhor explicar que são casos raros e que providências estarão sendo tomadas no sentido de evitar que venha a se repetir”, orienta Adriana Horta Fernandes, psicopedagoga e mestre em Educação.
Nessa conversa, soma ainda Bernadete Porto, há a possibilidade “de dialogar com a vida”. A violência também diz sobre “valores mais humanistas, onde estão. A grande mobilização é cuidar do mundo”.
A tragédia no Rio tem outra versão, extrai Glória Diógenes: “É importante que a sociedade mostre que há humanidades. Do mesmo jeito que tem alguém que comete um ato insano, tem tantos outros que são capazes de atos grandiosos, de solidariedade”. Para a estudiosa da violência, “a morte dessas crianças faz com que todos choremos, mas também mobiliza nossa humanidade, nosso cuidar mais”.
E agora
ENTENDA A NOTÍCIA
Psicopedagogos, educadores e sociólogos apontam um caminho a ser percorrido depois da tragédia: debater a violência para que se possa reconstruir o mundo e os valores. As possibilidades da vida são sempre maiores e mais fortes do que as manifestações de violência
O MÉTODO
- a conversa deve ser provocada pelas crianças ou adolescentes. As explicações surgem a partir das perguntas e sentimentos que eles tenham sobre a violência;
- não se deve desencorajar, nem tampouco provocar a discussão;
- as escolas precisam envolver todos na discussão e avaliar como profissionais, pais e alunos podem evitar tragédias semelhantes;
- é preciso que a dor e o medo sejam transformados em ações. Novos rumos podem ser pensados, em casa e na escola, para conter a violência;
- o diálogo deve abarcar o mundo em que se vive e um outro que pode ser (re)construído, a partir de valores humanistas;
- mostrar bons exemplos e atos que favorecem a convivência e a paz contribuem para um novo imaginário, para trilhar outros caminhos.
Fonte: www.opovo.com.br
Por Ana Mary C. Cavalcante
anamary@opovo.com.br
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