Cobertura sobre crianças vítimas de violência desperta reações de entidades e especialistas
Debate sobre procedimentos da imprensa reacende com matéria sobre violência sexual contra criança no Profissão Repórter e com a cobertura da tragédia em Realengo
A cobertura de notícias que envolvem violência e abuso contra a criança são sempre complexas e exigem um cuidado redobrado do profissional de imprensa. Sem dúvida, um dos papéis da grande mídia numa democracia é dar visibilidade pública a todos temas que afetam às crianças e adolescentes, inclusive a violência contra meninos e meninas. Neste sentido, ao oferecer informação confiável e contextualizada, o jornalismo colabora para influenciar ações e políticas públicas de enfrentamento a esse tipo de crime.
Recentemente, dois eventos chamaram a atenção de profissionais da mídia, estudiosos de comunicação e organizações voltadas para os direitos da criança e da adolescência: a cobertura do caso de Realengo e o programa Profissão Repórter que tratou das vítimas de violência sexual no hospital Pérola Byington, em São Paulo. A cobertura da imprensa nos dois casos é bem vinda e é compreensível que as duas tenham gerado controvérsia, uma vez que lidam com temas com diversos nuances e de impacto considerável. No entanto, é importante ficar atento aos argumentos que surgiram nesse debate, inclusive, para os jornalistas aprimorarem o seu trabalho, as instituições se prepararem melhor para este tipo de situação e, com isso, levar ao público uma reflexão mais equilibrada sobre o que significa jornalismo de qualidade neste contexto.
Uma matéria sobre violência sexual estreou a temporada 2011 do Profissão Repórter. O programa, coordenado pelo jornalista Caco Barcellos, trabalha com profissionais recém-formados e costuma primar pela qualidade do processo investigativo. Contudo, a condescendência dos responsáveis pelo Ambulatório de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, local onde foram realizadas as entrevistas, e a abordagem pouco cuidadosa dos jornalistas geraram uma reação na Internet de grupos que lidam com os direitos da infância e da adolescência.
Profissão Repórter
A mais repercutida resposta ao Profissão Repórter foi elaborada pelo Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - CEDECA-RJ, que repudiou a matéria de forma veemente em seu site.
No texto, entre outros aspectos o CEDECA-RJ considera que “intervenção profissional foi extremamente inadequada, na medida em que não zelou pela proteção do direito da criança à privacidade, ao respeito e à sua dignidade humana; autorizando repórteres a permanecerem na sala de atendimento durante a revelação dos abusos sexuais sofridos.” Além disso, aponta o risco de revitimização das crianças ao obrigá-las a reviver o acontecido em frente às câmeras, expondo ainda as vítimas do abuso com suas imagens e vozes – ainda que distorcidas.
A organização criticou também a postura do Hospital por permitir que uma equipe de TV acompanhasse e fizesse intervenções durante o atendimento às crianças.
Em uma breve nota de resposta postada na caixa de comentários do blog do programa, a equipe do
Profissão Repórter explica a sua atuação ao longo da matéria:
“ As equipes que registraram o trabalho do Ambulatório de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington respeitaram integralmente as recomendações e orientações impostas pelos profissionais do hospital e, como fica claro no próprio programa, vozes e imagens que pudessem identificar as vítimas foram distorcidas.”
Em texto enviado por e-mail, o Secretário-Executivo da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced) e consultor Especial para o Unicef e a Unesco, Wanderlino Nogueira Neto, acredita que a crítica à reportagem e ao Hospital precisa ser ampliada “para o papel exercido por determinados agentes públicos da política de saúde.” “Perguntemos-nos: que tipo de atuação – nós, enquanto agentes públicos não governamentais e especializados da política nacional de direitos humanos – poderemos ter, advogando no sentido amplo (promovendo e defendendo/protegendo) os direitos fundamentais de crianças e adolescentes que têm seus direitos sexuais e reprodutivos ameaçados e violados (chamados de "vítimas de violência sexual") e que tem o seu processo de extensão da cidadania truncado?”
Cobertura em Realengo
A cobertura da tragédia ocorrida em Realengo também despertou críticas na relação da imprensa com as crianças. O CEDECA-RJ, por exemplo elogiou a cobertura do meios de comunicacão nos primeiros dias que, segundo eles: “seguiu o padrão e até mesmo o dever da cobertura jornalística - um fato de grande impacto demanda cobertura, demanda mobilizar todos os meios e recursos do poder público, da sociedade em geral e da comunidade local; demanda necessariamente cobertura ao vivo e demais práticas”.
No entanto, a instituição questionou a superexposição das crianças nos dias seguintes da cobertura quando os repórteres passaram a ir atrás dos sobreviventes da tragédia em suas casas: “Repudiamos a exploração do uso da imagem dessas crianças e desses adolescentes que há dias corriam para salvar suas vidas. Diversos programas de tv e rádio, transmitidos praticamente para todo o país e de grande audiência, repercutindo no exterior, exploram a imagem de tais crianças e adolescentes pela exposição pública do sofrimento físico e psíquico a que foram submetidos.”
O advogado e professor de legislação e ética no jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Joaquim Welley Martins, defendeu que a cobertura sem cuidados de parte da imprensa também fere os direitos das crianças. Em carta ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), a coordenadora de Graduação da Faculdade de Comunicação da UnB, Dione Oliveira Moura também questiona: “Temos uma sólida legislação protetora dos direitos da criança e do adolescente no que diz respeito à exposição de suas imagens.”
Os conselheiros do CONANDA também se manifestaram sobre os diferentes aspectos do caso e pediram providências no apoio social e psicológico às crianças e adolescentes diretamente envolvidos na tragédia, aos familiares que perderam seus filhos e aos trabalhadores que vivenciaram a tragédia ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no Bairro de Realengo, no município do Rio de Janeiro.
Fonte :Portal Andi
A cobertura de notícias que envolvem violência e abuso contra a criança são sempre complexas e exigem um cuidado redobrado do profissional de imprensa. Sem dúvida, um dos papéis da grande mídia numa democracia é dar visibilidade pública a todos temas que afetam às crianças e adolescentes, inclusive a violência contra meninos e meninas. Neste sentido, ao oferecer informação confiável e contextualizada, o jornalismo colabora para influenciar ações e políticas públicas de enfrentamento a esse tipo de crime.
Recentemente, dois eventos chamaram a atenção de profissionais da mídia, estudiosos de comunicação e organizações voltadas para os direitos da criança e da adolescência: a cobertura do caso de Realengo e o programa Profissão Repórter que tratou das vítimas de violência sexual no hospital Pérola Byington, em São Paulo. A cobertura da imprensa nos dois casos é bem vinda e é compreensível que as duas tenham gerado controvérsia, uma vez que lidam com temas com diversos nuances e de impacto considerável. No entanto, é importante ficar atento aos argumentos que surgiram nesse debate, inclusive, para os jornalistas aprimorarem o seu trabalho, as instituições se prepararem melhor para este tipo de situação e, com isso, levar ao público uma reflexão mais equilibrada sobre o que significa jornalismo de qualidade neste contexto.
Uma matéria sobre violência sexual estreou a temporada 2011 do Profissão Repórter. O programa, coordenado pelo jornalista Caco Barcellos, trabalha com profissionais recém-formados e costuma primar pela qualidade do processo investigativo. Contudo, a condescendência dos responsáveis pelo Ambulatório de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, local onde foram realizadas as entrevistas, e a abordagem pouco cuidadosa dos jornalistas geraram uma reação na Internet de grupos que lidam com os direitos da infância e da adolescência.
Profissão Repórter
A mais repercutida resposta ao Profissão Repórter foi elaborada pelo Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - CEDECA-RJ, que repudiou a matéria de forma veemente em seu site.
No texto, entre outros aspectos o CEDECA-RJ considera que “intervenção profissional foi extremamente inadequada, na medida em que não zelou pela proteção do direito da criança à privacidade, ao respeito e à sua dignidade humana; autorizando repórteres a permanecerem na sala de atendimento durante a revelação dos abusos sexuais sofridos.” Além disso, aponta o risco de revitimização das crianças ao obrigá-las a reviver o acontecido em frente às câmeras, expondo ainda as vítimas do abuso com suas imagens e vozes – ainda que distorcidas.
A organização criticou também a postura do Hospital por permitir que uma equipe de TV acompanhasse e fizesse intervenções durante o atendimento às crianças.
Em uma breve nota de resposta postada na caixa de comentários do blog do programa, a equipe do
Profissão Repórter explica a sua atuação ao longo da matéria:
“ As equipes que registraram o trabalho do Ambulatório de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington respeitaram integralmente as recomendações e orientações impostas pelos profissionais do hospital e, como fica claro no próprio programa, vozes e imagens que pudessem identificar as vítimas foram distorcidas.”
Em texto enviado por e-mail, o Secretário-Executivo da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced) e consultor Especial para o Unicef e a Unesco, Wanderlino Nogueira Neto, acredita que a crítica à reportagem e ao Hospital precisa ser ampliada “para o papel exercido por determinados agentes públicos da política de saúde.” “Perguntemos-nos: que tipo de atuação – nós, enquanto agentes públicos não governamentais e especializados da política nacional de direitos humanos – poderemos ter, advogando no sentido amplo (promovendo e defendendo/protegendo) os direitos fundamentais de crianças e adolescentes que têm seus direitos sexuais e reprodutivos ameaçados e violados (chamados de "vítimas de violência sexual") e que tem o seu processo de extensão da cidadania truncado?”
Cobertura em Realengo
A cobertura da tragédia ocorrida em Realengo também despertou críticas na relação da imprensa com as crianças. O CEDECA-RJ, por exemplo elogiou a cobertura do meios de comunicacão nos primeiros dias que, segundo eles: “seguiu o padrão e até mesmo o dever da cobertura jornalística - um fato de grande impacto demanda cobertura, demanda mobilizar todos os meios e recursos do poder público, da sociedade em geral e da comunidade local; demanda necessariamente cobertura ao vivo e demais práticas”.
No entanto, a instituição questionou a superexposição das crianças nos dias seguintes da cobertura quando os repórteres passaram a ir atrás dos sobreviventes da tragédia em suas casas: “Repudiamos a exploração do uso da imagem dessas crianças e desses adolescentes que há dias corriam para salvar suas vidas. Diversos programas de tv e rádio, transmitidos praticamente para todo o país e de grande audiência, repercutindo no exterior, exploram a imagem de tais crianças e adolescentes pela exposição pública do sofrimento físico e psíquico a que foram submetidos.”
O advogado e professor de legislação e ética no jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Joaquim Welley Martins, defendeu que a cobertura sem cuidados de parte da imprensa também fere os direitos das crianças. Em carta ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), a coordenadora de Graduação da Faculdade de Comunicação da UnB, Dione Oliveira Moura também questiona: “Temos uma sólida legislação protetora dos direitos da criança e do adolescente no que diz respeito à exposição de suas imagens.”
Os conselheiros do CONANDA também se manifestaram sobre os diferentes aspectos do caso e pediram providências no apoio social e psicológico às crianças e adolescentes diretamente envolvidos na tragédia, aos familiares que perderam seus filhos e aos trabalhadores que vivenciaram a tragédia ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no Bairro de Realengo, no município do Rio de Janeiro.
Fonte :Portal Andi
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