quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Desenhos revelam como alunos de escolas do DF veem os candidatos

Israel, de cinco anos, veste um gorro preto e olha com desconfiança para o repórter da Folha que entra na sala de aula onde estuda na Escola Pública 7 da Ceilândia, um dos redutos da nova classe média no Distrito Federal.
Minutos depois, ainda sem falar, o menino já está concentrado em sua tarefa: ver um trecho do debate entre os candidatos a presidente Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB), promovido pela Folha/RedeTV! no dia 17, e em seguida fazer um desenho. 


Além dele, outras 34 crianças de cinco e seis anos da pré-escola da Ceilândia participaram da experiência --repetida com 34 alunos de seis anos do 1º ano do Colégio Marista João Paulo 2º, escola privada na Asa Norte, bairro nobre de Brasília.
Apesar da diferença no estágio escolar, a produção dos desenhos de forma geral aponta uma tendência de maior apoio a Dilma entre os futuros eleitores da Ceilândia, onde até mesmo Lula é citado ao se perguntar em quem as crianças votariam.
Serra vence na Asa Norte. Lá, ao fim do exercício, um grupo de seis meninos sai pulando e gritando o nome do candidato pelo corredor.
INFLUÊNCIA DOS PAIS
A repetição entre as crianças das preferências apontadas nas pesquisas não é novidade para as professoras. "Eles recebem muito a influência dos pais e estão muito inseridos no processo eleitoral. Tivemos que trabalhar valores como respeito às escolhas por causa de discussões entre eles", diz Monalisa Almeida, do Colégio Marista.
Há outra semelhança com os adultos: as crianças não aguentaram ver mais do que os 13 primeiros minutos do programa. Após dez, a maioria já estava desinteressada.
A propaganda eleitoral e as discussões em casa transparecem nos desenhos. Mesmo aparecendo de branco no programa, Dilma quase sempre é pintada de vermelho ou colorida, como sua propaganda tenta pintá-la. Já Serra aparece associado ao azul, cor do PSDB, e também ao preto, apesar do terno cinza.
Pesquisas indicam que Dilma enfrenta resistências entre as mulheres. Mas não entre as pequenas desenhistas: aparece várias vezes ao lado de corações. Além disso, em muitas pinturas, a candidata aparece sozinha.
A psicopedagoga Tânia Ramos Fortuna, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que analisou as ilustrações, observou que, mesmo nas vezes em que é desenhada ao lado de Serra, Dilma é representada por uma figura maior do que ele.
"Os desenhos expressam sentimentos e valores das crianças em relação ao conteúdo do vídeo. Elas demonstram preferências ou, pelo menos, mostram-se capazes de compreender que se trata de uma disputa altamente mobilizante", diz Tânia.
Já Neide de Aquino Noffs, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia e professora da PUC-SP, acha que a candidata foi associada pelas meninas à figura da mãe/ professora e por isso foi retratada mais sozinha.
Neide observa que as crianças não são capazes de entender a complexidade dos argumentos dos candidatos. Mas os desenhos refletem a percepção do conflito.
Há ainda os que chegam a desenhar os candidatos lado a lado ou no mesmo púlpito. Há também elementos como sol, nuvens, flores e árvores, que indicam que Dilma e Serra foram considerados dois amigos, brincando.
Concentrado, o pequeno Israel desenha com traço forte um homem sem cabelo e de olhos grandes e a seu lado, uma mulher maior. A posição dela parece de ataque. A figura masculina é pintada. A feminina, não. Perguntado se tinha desenhado uma briga, Israel dá um pequeno sorriso e vai brincar no pátio. Em silêncio, como no início da brincadeira.

Editoria de Arte/Folhapress
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