É Notícia: Balanço do IJF aponta que violência vitimou 818 crianças até agosto de 2010
Dados são de 2010 e referem-se a registros envolvendo lesões por bala e faca, agressões domésticas e trânsito
Grupo armado entra em escola, no Barroso II, faz professores, funcionários e alunos reféns e rouba todos os pertences das vítimas. Miguel, nome fictício de criança com dez anos de idade, não soube do fato pelos jornais, por conversas com colegas, ou mesmo através da televisão. Uma das vítimas era seu amigo e vizinho.
A violência tão próxima do menino não é exceção na vida de milhares de crianças e adolescentes de Fortaleza. Segundo estatísticas do Instituto José Frota (IJF), as crianças têm se tornado alvos em potencial de crimes e suas vítimas mais vulneráveis. O caso da menina de nove anos baleada durante crime de pistolagem, na última quarta-feira, no Bonsucesso, engrossou os dados do Frotão. De janeiro até ontem, já são 818 crianças e adolescentes até 15 anos de idade envolvidos em registros de lesões por armas de fogo, brancas, agressões, violência doméstica e trânsito. Em todo o ano passado, o total chegou a 1.156 ocorrências. Em 2008, foram 1.037 registros no total.
Em oito meses de 2010, somente lesões com arma de fogo, somam 33 casos. Já as armas brancas, como facas, estiveram presentes em 11 ocorrências. Incidentes causados pela violência doméstica já são 221 e as agressões físicas, 50.
O trânsito também vitima crianças. Pelas estatísticas do Frotão, foram 394 crianças atropeladas e 119 envolvidas com acidentes de motos. O total geral de registros pode subir, se considerarmos quedas de carro em movimento, com 26 casos, e 67 abalroamentos, em 2010.
As especialistas e integrantes da Sociedade Brasileira de Pediatria, Luciana Phebo e Anna Teresa de Moura, no trabalho sobre violência urbana "Um Desafio para o Pediatra", refletem que os efeitos psicológicos decorrentes do problema podem ser identificados já no primeiro atendimento na emergência, persistindo após a experiência traumática.
Traumas
Sintomas de estresse agudo, como o medo, terror ou desamparo, acompanhados de distúrbios mais complexos na fase inicial do trauma, aumentam a possibilidade de alterações psicológicas futuras. "A detecção precoce desses sintomas não é tarefa fácil", afirmam. A presença dessas alterações psicológicas precoces pode funcionar como marcador para o aparecimento posterior de uma situação de difícil abordagem, o chamado transtorno de estresse pós-traumático. "É um distúrbio grave e que requer tratamento psiquiátrico especializado e continuado".
Segundo elas, estudos mostram que a exposição à violência urbana tem uma ação determinante no aparecimento do transtorno de estresse pós-traumático na infância, mesmo quando se controlam outras variáveis, como a presença de depressão e ideias suicidas.
A titular da 2ª Promotoria da Infância e Juventude, do Ministério Público Estadual (MPE), Maria de Fátima Pereira Valente, diz que a falta de políticas públicas continuadas voltadas para as famílias é um dos fatores que agravam a questão. Para ela, crianças e adolescentes não podem esperar mais. "É preciso ação para já e não para um futuro que ninguém alcança".
LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER DO DIÁRIO DO NORDESTE - WWW.DIARIODONORDESTE.COM.BR
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