quinta-feira, 22 de julho de 2010

Brincar para se desenvolver

Programa social dissemina o brincar como direito e incentiva a relação família-filhos para o desenvolvimento




Fortaleza. "Menino! Se você não se aquietar você não vai brincar hoje". Esta expressão é comum a você? Quem, na sua infância, não ouviu o pai ou a mãe darem este "carão"? Mal sabia eles que, ao brincar, a criança desenvolve vários aspectos cognitivos, físicos e, ainda, apreendem valores sociais. Eles não faziam por mal, foram também educados com esses mesmos preceitos. Têm aqueles também que acreditam que brincadeira não é coisa séria. Com certeza, em algum lugar você já ouviu "agora acabou a brincadeira" ou "aqui não é lugar de brincadeira". Felizmente, a imagem do brincar vem mudando no Interior do Ceará.




Com a implantação do Programa O Ceará Cresce Brincando, realizado pela Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará (Apdmce) e Unicef, e executado pelo Instituto Stela Naspolini (ISN), o conceito do brincar e do esporte educacional tem chegado a milhares de crianças, adolescentes e suas famílias, e, principalmente, tem sido compreendido como um direito.

O Programa articula três projetos: Espaço de Referência do Brincar, que instala brinquedotecas públicas municipais; Esportividade, que dissemina o esporte educacional; e Aprendendo e Brincando Junto, que incentiva a aproximação entre pais-filhos-escola.



Opinião



Segundo pesquisa realizada junto às famílias atendidas pelo Programa, constatou-se que a maioria das mães entrevistadas não brincaram quando crianças. Muitas delas afirmaram: "tinha que ajudar nos afazeres da casa". Mesmo não tendo brincado, elas hoje percebem a importância para seus filhos: "eles aprendem novas coisas", "aprendem a ler", " novos amigos".

Há diversas razões para a criança brincar. A primeira delas pelo próprio prazer da atividade. E diversos autores destacam, ainda, a importância que a brincadeira tem para o desenvolvimento infantil. A capacidade de concentração, da lógica e da linguagem são alguns ganhos.

Alguns valores e sentimentos também podem ser resgatados: responsabilidade, negociação, conquista, regras, habilidade de resolver conflitos e respeito às diferenças. E neste contexto, a diversidade do acervo é importantíssimo. Além desse mundo de faz de conta, o acervo tem que atender também à diversidade cultural do universo infantil. "O acervo da brinquedoteca é diferencial. Temos bonecas de todos os jeitos. Brancas, negras, altas, baixas, magras, gordas, grávidas e com deficiência, por exemplo", conta a presidente do ISN, Vânia Dutra.

Para o educador, Antenor Naspolini, o Ceará tem avançado no que se refere à infância. "O Ceará deu um salto importante na redução da mortalidade infantil. Os cearenses sabem como baixar a mortalidade. Agora, essas crianças que sobreviveram, têm que ter acesso a educação de qualidade e precisam brincar, como fonte de energia", afirma.



Experiência



O Município de Cruz construiu uma Praça do Brincar. Lá, tabuleiros gigantes tomam conta do chão da praça, onde também está localizado o Espaço de Referência do Brincar. Além de preparar espaços públicos adequados, a metodologia do esporte educacional foi adotada pelos 17 monitores de esporte e educadores físicos do Município. Atualmente, são atendidas 903 crianças e adolescentes, no contra-turno, em 58 turmas nas escolas municipais.

Mas, como conta o professor Edson Muniz, que também coordena o projeto no Município, o processo de implantação foi bastante negociado e lento. "Colocar um menino e uma menina para brincarem de futsal juntos, por exemplo, era um ´auê´. Antigamente, nós chegávamos e dizíamos o que eles iam fazer. Hoje, nós sentamos com eles (crianças e adolescentes) e perguntamos como faremos".



Envolvimento





"Vemos o envolvimento das crianças e das famílias como um ponto positivo"


Vânia Dutra


Presidente do Instituto Stela Naspolini, executor do Programa



"As crianças têm que ter acesso a educação de qualidade e precisam brincar"


Antenor Naspolini


Educador e vice-presidente do ISN



MAIS INFORMAÇÕES


APDMCE
Avenida Oliveira Paiva, 2621
Fortaleza/CE
(85) 4006.4058



FORTALECIMENTO
A família é o foco da ação





Fortaleza. Numa fala muito emocionada, em audiência sobre violência contra crianças e adolescentes, ocorrida em junho, Antenor Naspolini disse: "A família está precisando de ajuda". Suas palavras referiam-se à dura realidade de famílias cearenses que são desestruturadas e que têm crianças vítimas de violências. Indiretamente, a fala do educador também faz parte dos questionamentos de diversos projetos sociais, em pensar que a família tem que ser o foco principal de suas ações.



Muitos projetos que têm foco na promoção dos direitos humanos não conquistaram seus objetivos por centralizarem suas ações somente no indivíduo, seja este criança, adolescente, idoso, mulher ou uma pessoa com deficiência. Assim como as políticas públicas, os projetos sociais têm se adequado a esta demanda.

O Programa O Ceará Cresce Brincando, na tentativa de garantir a criança todos os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, a partir do segundo semestre de 2010, estará realizando ações junto às famílias para incentivar a aproximação família-criança-escola, com o Projeto Aprendendo e Brincando Juntos. Nesta relação, o objetivo maior é aumentar os laços afetivos entre pais e filhos, como foco no desenvolvimento da família, e estimular que os pais acompanhem a vida escolar de suas crianças.

Segundo o educador e especialista em projetos do Unicef, Rui Aguiar, quando a família tem sua dinâmica adequada e conhece seus direitos, outros direitos serão demandados e garantidos. "Um programa social, hoje, deve considerar a família como ponto central de desenvolvimento. Os gestores públicos, dentro deste contexto democrático, têm que ouvir a família sobre o desenvolvimento dos filhos", afirma.

As ações acontecerão na escola, com professores, coordenadores e pais; e nas comunidades, com o brincar. Também será realizado o acompanhamento individualizado das famílias e de crianças com déficit de aprendizagem.

As atividades do brincar e de lazer não foram interrompidas durante as férias, apesar do recesso das escolas. A brinquedoteca é, em alguns locais, a única opção para as crianças brincarem. Foi pensando nisto que os município de Assaré, Beberibe, Brejo Santo, Cruz, Hidrolândia, Horizonte, Itarema, Pedra Branca, Porteiras, Quixeramobim, Sobral, Tejuçuoca e Viçosa - cidades participantes do programa -, elaboraram um mês de atividades para os jovens.



Emanuelle Lobo
Especial para o Regional

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