domingo, 19 de dezembro de 2010

Relatório do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará aponta falhas em unidades de acolhimento

Documento elaborado com base em audiências feitas por recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

A Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) divulgou, esta semana, relatório sobre as audiências concentradas realizadas para avaliar a situação das unidades de acolhimento no Estado. Falta de equipe técnica multidisciplinar formada por assistente social e psicólogo; superlotação e lentidão injustificáveis nos procedimentos judiciais administrativos (PAs) são algumas da constatações em algumas unidades resultantes dessas audiências, ocorridas entre os meses de agosto e outubro deste ano.

Além disso, várias unidades de acolhimento apresentam instalações fís, conforme explicou, ontem, o coordenador da CIJ do Tribunal de Justiça, desembargador Francisco Gurgel Holanda.

No Ceará, existem 46 unidades, das quais 23 estão na Capital e 23 no interior. Todas as unidades da Capital foram visitadas e juntas abrigam 484 crianças e adolescentes, com idade de zero a 18 anos, dos quais 98 não se encontram em situação regular, devido à ausência da expedição pela unidade da guia de acolhimento.

Somente oito entidades possuem quadro de profissionais técnicos de acordo com a Resolução nº 109/2009, que dispõe sobre a necessidade de assistentes sociais e psicólogos responsáveis pela orientação técnica do acolhimento, informa o desembargador Francisco Gurgel Holanda. Identificado também o problema da transferência do acolhido para outra instituição sem o acompanhamento do "histórico de vida", documento com informações da criança ou do adolescente.

"A situação é mais precária no Interior, onde a carência de profissionais é total. Não existe pessoal para fazer, por exemplo, a avaliação dos interessados em adotar. Essas imperfeições servem de análise para melhorar os serviços. A ação deve ser conjunta entre o Poder Judiciário e os outros órgãos envolvidos", aponta Francisco Gurgel Holanda.

Negligência e abandono destacam-se entre os motivos para o acolhimento, mostra o relatório da Coordenadoria da Infância e da Juventude do TJCE. Além de vulnerabilidade financeira, constatou-se ser recorrente situações de uso de substância psicotrópica por pais e avós dessas crianças. As audiências concentradas foram recomendadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A assessora jurídica do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), Talita Maciel, ressalta a importância da iniciativa do CNJ, uma vez que possibilita o monitoramento dos abrigos. "A realidade nos aponta problemas graves como o desvirtuamento do objetivo das unidades de acolhimento quando, por exemplo, são encaminhados adolescentes em razão da drogadição e por ameaça de morte", disse. Defende que se busque responsabilizar aqueles que têm o dever de garantir o bem-estar de crianças e adolescentes .

Fonte: Diário do Nordeste - Edição do 19 de Dezembro de 2010

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