O Ceará tem experimentado um significativo crescimento econômico nos últimos anos, com a geração de empregos batendo recordes seguidos. No entanto, essas oportunidades geradas não estão sendo aproveitadas pela maioria dos jovens do Estado, sobretudo da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), uma vez que o nível de escolaridade dessas pessoas é muito baixo, dificultando sua inserção no mercado de trabalho ou resultando em uma inserção precária. A constatação é feita com base no estudo “Educação e trabalho juvenil em um contexto de crescimento econômico: a realidade do Ceará”, apresentado ontem (18) pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) e do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT).
Conforme o levantamento, a RMF possuía em 2009 aproximadamente 728 mil jovens (15 a 24 anos), o que correspondia a 20,4% da população metropolitana do Estado. Desse total, 54,3% dos jovens estavam fora da escola, a maioria por estarem trabalhando ou buscando emprego. “O estudo revela que 48% dos jovens pertencem a famílias pobres, gerando um círculo vicioso, pois as famílias não têm condições de manter os filhos na escola que, por sua vez, abandonam os estudos para trabalharem e contribuírem com as despesas do lar. Essa situação se agrava ainda mais nos casos dos jovens que são chefes de família, 8,4% do total”, afirma o analista de Mercado de trabalho do IDT, Mardônio Costa.
Segundo o analista, embora haja geração de emprego no Ceará, os jovens têm dificuldade de ter acesso ao mercado de trabalho devido à baixa escolaridade, uma vez que 41,2% deles possuem, no máximo, o ensino fundamental e que o mercado exige, no mínimo, o ensino médio. “Embora alguns índices tenham melhorado, a escolaridade ainda é um problema grave. Nos países desenvolvidos, por exemplo, o tempo médio de estudo das pessoas é de 13 a 14 anos. Já no Ceará, bem como no Brasil, o tempo médio de estudo é de apenas sete anos”, destaca.
FORMAS DE OCUPAÇÃO
Observando as formas de ocupação do tempo dos jovens da RMF, o estudo constatou que 33,5% (243,9 mil) somente estudavam em 2009, 31,7% (230,8 mil) somente trabalhavam, 22,6% (164,5 mil) não trabalhavam e nem estudavam e 12,2% (88,8 mil) trabalhavam e estudavam. “Essa realidade é bastante similar à do Brasil e da América Latina. No entanto, o percentual de jovens que não estudam e também não trabalham é maior no Ceará, alcançando a marca de 22,6%, contra 18% no Brasil”, avalia Mardônio Costa, acrescentando outro dado alarmante: 14,2% dos jovens cearenses (103,4 mil) apresentam o maior risco social, pois não estudam, não trabalham e nem buscam emprego.
DESESTÍMULO
Além das dificuldades financeiras e da maior carga horária que cumprem (em média, 41 horas de trabalho por semana), o analista do IDT cita as deficiências do sistema educacional como outro fator importante para que os jovens sintam-se desestimulados a continuarem os estudos, gerando um alto índice de evasão escolar.
Para Mardônio Costa, o governo deve investir mais na qualidade de ensino, no corpo docente, na melhoria das práticas pedagógicas, na infraestrutura das escolas e na criação de um maior número de vagas para os estudantes. Essas medidas poderiam ser eficientes para melhorar a qualidade da educação básica, combater a evasão escolar e dar mais oportunidades para que os jovens tenham acesso ao ensino profissionalizante e ao mercado de trabalho.
“A melhoria da educação é o principal foco deste estudo, pois se o jovem não tiver uma boa educação básica, será muito difícil para ele ter acesso e acompanhar o ensino técnico, por exemplo. É preciso melhorar a qualidade do ensino, aproximar as empresas das escolas e vincular o emprego juvenil à agenda de desenvolvimento do Ceará. Afinal, a educação é o eixo forte da redução da pobreza, da inclusão social e do desenvolvimento econômico”, ressalta Costa.
SUBSÍDIO
Segundo o analista do IDT, além de fomentar a discussão sobre a qualidade da educação no Ceará, principalmente na RMF, o estudo poderá, ainda, ser utilizado para subsidiar as políticas voltadas para a educação e para a juventude, de forma que os jovens possam se apropriar um pouco mais do crescimento econômico do Estado.
Por Dháfine Mazza
dhafine@oestadoce.com.br
Fonte: Jornal O Estado - Edição do 19/11/2010 - Caderno Geral