Manaus - A luta pelo câncer infantil é árdua e contínua. O caso da menina Ana Luiza, que veio a falecer no dia oito de julho aos 7 anos de idade depois de uma luta intensa contra um raro tipo da doença, mobilizou o estado do Amazonas e todo o Brasil.
Diante de tanta repercussão em torno do caso, é normal que apareçam dúvidas e questionamentos a respeito dessa doença que, se não for diagnosticada no início, pode matar silenciosamente. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 7 milhões de pessoas morrem por ano em todo o mundo de câncer.
O câncer cerebral é o que mais atinge as crianças no país, mas, na Região Norte, os casos de leucemia são os mais comuns entre crianças e adolescentes.
Especificamente no estado do Amazonas, 70% das crianças diagnosticadas com câncer na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas são do interior.
Segundo a pediatra, Miyuki Guemba, os casos de maior incidência são oriundos do interior pela dificuldade em obter o diagnóstico. "No interior do estado, as famílias não contam com um centro especializado como o Cecon. Por decorrência disso, as crianças já chegam aqui em estágio avançado" disse a médica.
Miyuki afirmou ainda que, em todo o estado, apenas cinco profissionais estão especializados para tratarem das crianças e adolescentes diagnosticadas com câncer. "O preconceito ainda é a causa desse atraso na medicina. A maioria dos médicos não se especializa em oncologia por ter um conceito errado da doença. Falar em câncer não é o mesmo que falar em morte", disse.
Dificuldades da Oncologia no Norte do Brasil
Manaus foi uma das cidades da Região Norte pioneiras em oncologia pediátrica, tratamento implantado em 1991. Dos cinco profissionais do estado do Amazonas especializados na doença, dois prestam serviço no Cecon, que é o centro especializado em todo tipo de câncer na região.
Porém, em toda Região Norte do Brasil, o número desses profissionais diminui, o que acarreta uma grande quantidade de pacientes vindos de outros estados a Manaus em busca de tratamento.
Segundo o diretor–presidente da Fundação Cecon, Edson Andrade, o hospital recebe pacientes de Roraima e do oeste do Pará. "Estamos fazendo uma ampliação no centro para dar mais mobilidade a todos os pacientes que precisam deste hospital para se tratarem, pois recebemos gente de toda região norte do país", disse o médico.
Todas as semanas, a médica Miyuki atende no Cecon um novo paciente que é diagnosticado com câncer. "No câncer infantil, não existe prevenção, porque, na maioria dos casos, a doença é genética".
A especialista disse ainda que o índice de crianças que precisam sair de Manaus para se tratar em outros estados é mínima. "A maioria das crianças que precisam ir para fora do estado vão em busca de um transplante e 80% delas nem passa por aqui, são oriundas de hospitais particulares", comenta.
Lado Sentimental – Fator Crucial para a Luta contra o Câncer
As pessoas que são diagnosticadas com a doença precisam de um acompanhamento periódico e, segundo especialistas, o carinho da família chega a ser primordial na hora da descoberta da doença. "O medicamento é 50% e o apoio da família são os outros 50% que o paciente precisa para se manter forte no decorrer do tratamento".
O médico oncologista pediatra atende crianças e adolescentes de até 18 anos de idade e o vínculo com esse paciente é enorme, já que um tratamento de leucemia, por exemplo, leva, em média, cinco anos. "Mesmo que curados, todos os pacientes tem um acompanhamento do hospital, pois sempre há uma possibilidade de um novo câncer. Portanto, o vínculo com esses pacientes é para a vida toda", relata a médica que tem em seu consultório as fotos de todos seus pacientes.
Miyuki ainda afirmou que se sente escolhida pela oncologia pediátrica, pois, segundo ela, trabalhar com crianças é mais fácil que com adultos. "A criança reage com alegria a qualquer melhora, e isso também nos fortifica a continuar essa árdua luta contra o câncer infantil", afirma a especialista.