terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Adolescentes utilizados como ambulantes no Centro cumprem escala de até 10 horas e vendem pornografia

O número de vendedores ambulantes que ocupam as ruas e calçadas do centro de Fortaleza no período de Natal sempre apresenta crescimento vertiginoso. Apesar do acréscimo na movimentação da economia local, é comum encontrar irregularidades e verdadeiros absurdos. Em uma simples caminhada da reportagem pelas ruas do bairro, foi possível identificar crianças e adolescentes trabalhando como ambulantes e vendendo de tudo um pouco, desde pirataria a material pornográfico.

De acordo com o que apurou a reportagem com vários jovens utilizados nesta atividade comercial, é grande quantidade de crianças e adolescentes que atuam nesse setor obedecendo a um regime que pode chegar até 10 horas de trabalho por dia.

É o caso do jovem R.O que, com apenas 15 anos, trabalha em uma banca que vende DVDs piratas. Entre os filmes que R.O vende, é possível encontrar até mesmo produções pornográficas. Ele recebe R$ 110 por semana para cuidar do comércio entre o período de 7h30 da manhã e 18h da noite.

R.O parece não perceber a série de irregularidades em que está envolvido. O adolescente diz que vai continuar nesse emprego até ter idade para trabalhar em algum setor formal. “Não tenho idade para trabalhar em outro lugar. Tenho só 15 [anos]. Só saio daqui se eu receber um salário”, conta.


A reportagem tentou entrar em  contato com Ivana Timbó, a delegada responsável pela Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa) para saber se ela tem conhecimento sobre a situação, mas ela está de férias.

Proteção ilegal
O jovem também denuncia que grande parte dos comerciantes informais do Centro sustentam um esquema de corrupção com os guardas da Polícia Militar (PM) que cobrem a região. De acordo com R.O, os PMs cobram R$ 40 por dia para ignorar todas as irregularidades dos camelôs. Ele diz também que já teve problemas com a Polícia Civil. “Eu já tive que fugir deles [Polícia Civil]. Eles disseram que iam levar a mercadoria. Eu deixei. Sei que não vai dar em nada mesmo”, afirma.

A denúncia de R.O é a mesma que faz a vendedora ambulante A.C.S. Ela tem hoje 18 anos, mas atua no comércio informal desde quando tinha 14 anos. A banca em que A.C.S trabalha também vende DVDs piratas. A jovem chega às 8h30 da manhã e vai embora somente às 19h30 da noite.

A.C.S confessou que foi presa no fim de novembro, mas não ficou na delegacia por muito tempo por ser ré primária. “Eu devo trabalhar aqui só até janeiro. Passei 4 anos desse jeito só porque não tinha idade para conseguir emprego em outro lugar”, revela.

Polícia Militar
Em entrevista ao Diário do Nordeste Online, o capitão Humberto Filho, da 5ª Companhia da Polícia Militar, desconhece as acusações feitas pelos vendedores ambulantes.

"Isso que você tá dizendo é novidade para mim. Até porque a ocupação irregular dos camelôs é de responsabilidade da Prefeitura e não da Polícia Militar", diz. O capitão ressaltou, porém, que vai investigar o fundamento das denúncias.

Dados do IBGE
De acordo com dados de 2009 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), aproximadamente 54 mil  adolescentes de 15 a 17 anos estão em situação de trabalho infantil no Ceará.

Extraído do www.diariodonordeste.com.br

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