Imprensa vive dilema ante livro que devassa privataria tucana
O livro “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr, com tiragem inicial de 15 mil exemplares, esgotou-se em apenas um dia, ao ser lançado do final de semana passada. Para seu editor, o também jornalista Luiz Fernando Emediado, o imenso interesse pelo livro nas redes sociais é inversamente proporcional ao demonstrado pelos grandes jornais e a mídia tradicional em geral.
A obra traz denúncias graves, inclusive a reprodução de mais de uma centena de páginas de documentos comprovando a movimentação financeira de vários tucanos de alta plumagem e de seus parentes e contra-parentes (leia mais neste blog) durante os oito anos do governo do PSDB de Fernando Henrique Cardoso, nos quais José Serra foi ministro duas vezes.
“A Privataria Tucana”, anuncia o editor, Luiz Fernando Emediato (Geração Editorial) será reeditado até o final desta semana – outra leva de mais 30 mil exemplares. Entrevistado por este blog, Emediato tem sua interpretação própria para a situação: o silêncio sepulcral relativo à obra por parte dos grandes jornais pode ser decorrência da prudência de alguns editores.
Dilema na grande imprensa
“Devem estar se debruçando sobre as provas, avaliando linha por linha”, diz. Fora essa hipótese ele levanta outra: há possibilidade, ainda, de estarem paralisados, perplexos mesmo, com o enorme volume de informações e provas que o livro traz à tona. Mas Emediato – Prêmio Esso de Jornalismo – estranha tamanho zelo em não repercutir as denúncias apresentadas na obra.
“Este final de semana, por exemplo – observa – muitos repercutiram uma matéria de uma revista semanal que requentava fatos baseados no suposto dossiê Caimã, que já havia sido divulgado e descartado como um material forjado contra o PT. Parece, inclusive, que a matéria foi publicada apenas para causar confusão. E muitos jornais embarcaram no tema, sem o mesmo rigor que estão tendo com o livro do Amaury.”
Emediato resume esse comportamento da mídia: “a imprensa enfrenta um grande dilema: tratar ou não desta questão”. Mas, ele acredita que a mídia será obrigada a enfrentar o tema. “As provas apresentadas são tão objetivas e tão contundentes e as denúncias, tão graves, que não há como escapar do tema”, conclui.
Mais de 100 páginas com a reprodução de documentos
Segundo Emediato, a decisão de publicar o livro foi mútua. “Eu conheço e respeito o Amaury há muitos anos e acompanhava a história-quase-lenda de que estaria investigando as negociações tucanas durante as privatizações”, conta.
Quando o nome de Amaury foi associado a denúncias de que ele fora o autor de um suposto dossiê contra tucanos durante a campanha da então candidata Dilma Rousseff, Emediato concluiu que a história estava mal contada. “Ele estava há anos investigando e não venderia o seu material para uma campanha, como diziam. Certamente, o guardaria para publicar num livro. Nada batia”, justifica.
Emediato lembra que Amaury não conseguiu se defender por meio da imprensa sobre o caso em que foi envolvido. “Fui procurá-lo, depois de passada a campanha. E o provoquei. Existe mesmo esse livro?”, perguntei-lhe. O livro não só existia, como estava praticamente pronto. Foram mais alguns meses de pequenos ajustes nas cerca de 200 páginas de texto corrido. E a orientação de Emediato foi seguida por Amaury: “optamos por reproduzir, na íntegra, mais de cem páginas de documentos”.
O poder da internet nas investigações
O editor julga “A privataria tucana” a maior investigação jornalística de que ele já teve conhecimento, exatamente pelo volume de provas e documentação levantada. Qual o segredo de tanta fartura de provas? Emediato tem a resposta na ponta da língua: a facilidade que a internet trouxe para buscar informações. “Nunca foi tão fácil cruzar dados de cartórios, contratos e demais documentos.“
Para provar como era fácil levantar qualquer documento, o próprio Amaury entrou num site norte-americano na minha frente, digitou o CPF de Verônica Serra (filha de José Serra), e lá estavam vários documentos que imprimimos na hora”, lembra o editor.
Com a era Google, na avaliação do editor Emediato, nenhum corrupto estará mais protegido. “Suas transações serão facilmente rastreadas”, conclui.